domingo, 6 de março de 2011

O que há de errado com o Paquistão?

 
Shahbaz Bhatti disse à BBC ter sofrido ameaças de morte



PAQUISTÃO (11º) - A morte de dois funcionários públicos por se manifestarem contra a controversa Lei de blasfêmia no Paquistão levantou sérias preocupações. Tanto o governador da Província de Punjab Salman Taseer quanto o ministro de Assuntos Minoritários Shahbaz Bhatti foram assassinados por extremistas islâmicos, apesar de o país ser um aliado chave dos Estados Unidos na guerra contra o terror há uma década.

A promessa de repelir a Lei incorporada da Seção 295 e 298 do Código Penal foi feita pelo ex-presidente General Pervez Musharraf e o atual líder de Estado, Asif Ali Zardari. O uso abusivo e errado da Lei a favor de extremistas que justificavam assassinatos, e assim propagar sua crença distorcida de que o ato de matar uma pessoa que “blasfema” é motivo de ganhar uma compensação dos céus foi reconhecida pelos líderes.

Lei perigosa

A Lei é perigosa, particularmente porque não há previsão de punição de um falso acusador ou uma falsa testemunha de blasfêmia. Isso significa que um muçulmano pode facilmente buscar vingança fazendo uma acusação contra seu adversário que não seja muçulmano.

Muxharraf e Zardari falharam em revogar a Lei da blasfêmia.

Essa falha foi porque o governo do Paquistão está brigando contra os terroristas Islâmicos de um lado e aderindo à sua pressão de revogar a Lei do outro – conhecido pelo termo “velejando em dois barcos”.

Um exemplo disso foi que com a morte de Taseer, o governo do Paquistão prontamente prendeu o assassino, seu guarda-costas, que está sendo processado segundo a lei local. Semanas depois, o primeiro Ministro Yusuf Raza Gilani pressionou sua colega de partido e a legisladora Sherry Rehman a retirar uma o documento particular que tinha entregado ao parlamento para alterar a Lei de blasfêmia. Gilani pensou que sua decisão de manter a Lei intacta foi em interesse de paz no país.

O resultado foi que aparentemente incentivado pelo movimento do governo, mataram uma das maiores vozes de sanidade no Paquistão, Shahbaz Bhatti, o único ministro cristão no gabinete de Zardari.

De maneira semelhante em abril de 2009, o presidente Zardari assinou uma diretiva impondo a Sharia, ou Lei islâmica, no Swat Valley no noroeste do Paquistão. Essa atitude foi parte de um acordo para acabar com a violência do Talibã, o qual tinha assolado a região durante um ano.

Escolas do Talibã


 “Zardari cedeu as pressões mesmo tendo jurado pela disseminação da militância e disse que a lei de Sharia foi a única maneira de trazer paz ao Swat,” afirmou o diário The India Express em 14 de abril de 2009. Um mês depois, o Exército do Paquistão lançou uma ofensiva contra o Talibã, mas em qualquer outro lugar o governo ainda permitiu que extremistas islâmicos conduzissem sua missão de doutrinar a juventude paquistanesa com a ideologia Jihadista.

Em outubro de 2010, o Talibã no Paquistão estabeleceu escolas na periferia de Karachi, onde jovens estudantes aprendiam habilidades para fazer bombas e ataques suicidas.
"Detido pela polícia antes que ele pudesse se explodir, um dos estudantes falou que eles [estudantes] foram informados de que os muçulmanos no mundo estavam sendo submetidos à brutalidade e que era seu dever se vingar," declara o analista de estratégia, Rajeev Sharma, em um artigo publicado por um Grupo de Análise Indiano, do Sul da Ásia.

Ele afirma: "Não se sabe quantos alunos estão nessas escolas criadas pelo Talibã. [Mas] estas não são as únicas escolas Talibãs. Na verdade, as madrassas (escolas) pró-Talibã existem em todo o Paquistão, incluindo Islamabad, por algum tempo."

Um mês mais tarde (Novembro de 2010), o Al-Rehmat Trust, uma Frente para o grupo terrorista Jaish-e-Mohammed, no Paquistão, abertamente realizou cursos sobre "versos jihadistas" no Alcorão, em várias cidades por todo o país.

A Frente teria recrutado os terroristas para lutar contra as forças americanas no Afeganistão em 2009, mas o governo paquistanês não quis controlar as suas operações no país.

Estado islâmico

O método de "dois barcos" do governo paquistanês tem vista para um desenvolvimento recente. Os terroristas islâmicos não mais buscam reformar radicalmente o estado da forma como fez o general Zia ul-Haq na década de 1980. Eles agora veem o estado como fundamentalmente anti-islã e querem destruí-lo completamente.

Em seu último livro "A Manhã e a Lâmpada” (The Morning and the Lamp), o subcomandante da Al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri, sugeriu que o próprio Estado fosse abolido, já que a Constituição foi contra os princípios islâmicos.

"Ao fazer essa chamada, Zawahiri vai além de xingamentos e declaração de que o Paquistão é um governo apóstata, e fornece fundamentados argumentos jurídicos para sustentar sua afirmação de que a apostasia está enraizada em documento fundacional do Estado," segundo um pesquisador sênior da Fundação Jamestown, Michael W.S. Ryan, em um artigo publicado na revista periódica Terrorism Monitor.

Ryan apontou que enquanto a maioria das pesquisas mostraram que a maioria dos paquistaneses queriam o seu país como Estado islâmico, pois viram a liberdade de expressão e outros valores democráticos como compatíveis com o Islã. "Talvez esta seja a confusão que Zawahiri está se referindo quando ele reclama que os paquistaneses estão ligados a ambas as culturas do islã e a ocidental, que afirma serem incompatíveis," disse Ryan.

Isso explica porque a Lei de blasfêmia - que é principalmente utilizada abusivamente para acertos de contas pessoais por alguns muçulmanos e para proteger o Islamismo - é um grande negócio para os islamitas.

A Lei representa o que um Estado Islâmico deveria ser, conforme a definição dos islâmicos. Desta maneira, é a oposição às liberdades democráticas - visto como parte de um conceito ocidental - que está no cerne da agenda dos islamitas que tentam avançar por meio de violência e assassinatos.

Lamentavelmente, os Estados Unidos, aparentemente, não conseguiram ver isso. Por isso que não trata questões de liberdade religiosa e outras expressões do extremismo religioso no Paquistão como parte de sua agenda. Para eles, o Paquistão é importante apenas como um aliado para estabilizar o vizinho Afeganistão. Os Estados Unidos devem ser advertidos de que o Paquistão pode se tornar outro Afeganistão, se a morte dos Bhatti e Taseer não for levada a sério.
Fonte:  http://www.portasabertas.org.br


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